Oleg Almeida: poeta e tradutor
DUM SPIRO, SPERO
Eu sei, meus amigos, que tudo acaba,
que não existe, no mundo dos homens, nada perene:
gasta-se a saúde,
perde-se a beleza,
esgota-se o prazer
e a força do corpo se vai embora.
Eu sei que a nossa vida não passa
duma centelha a brilhar no escuro sem bordas,
que só um instante separa a infância da senectude,
o berço da cova,
e disso, por vezes, eu tenho medo.
Mas, quando me sinto fraco,
e voltam as dúvidas seculares a deprimir-me,
quando, perante o infinito, deixam de ser relevantes
todos os argumentos lógicos e absurdos,
resta a promessa divina
que os humanos costumam chamar de esperança
em mil idiomas –
vem com o sol nascente,
surge das nuvens que se dispersam após a chuva,
no canto dos pássaros se percebe,
recria os sonhos desfigurados pela tristeza,
de brotos verdes semeia o solo infértil...
Forte como as mãos paternais
e serena como uma prece,
a esperança compensa a urgência dos dias
com tanta certeza de não me levarem à morte, mas, sim, ao futuro
que partilhá-la convosco, amigos, quero:
posto que grande demais para mim, em pessoa, seja,
para a humanidade seria de bom tamanho!